quinta-feira, 7 de março de 2013

Ilha dos vampiros. Tuberculose. Superstição. Canhotismo. Romênia 2004. Chá com cinzas de coração.

No romance de Bram Stoker(1847-1912), Drácula(1897), o conde Vlad vem em um navio em um caixão com terra de sua cidade natal, Transilvânia. Aparentemente, seres sobrenaturais, como vampiros, não podem atravessar água salgada. Pelo menos é o que creem muitos povos do século XIX nos arredores do Mediterrâneo, Europa de uma forma geral e até mesmo América do Norte. Sabidamente, tendemos a levar para o misticismo o que não entendemos. Uma prova disso é o fato de que 10% da população são canhotos. No império romano, por exemplo, canhotismo ou sinistrismo era associado ao satanismo e à má sorte. Os canhotos, até bem recentemente, eram obrigados a escrever ‘do modo correto’ e punidos, caso contrário. No dicionário Houaiss, canhotismo, sinistrismo e mancinismo são sinônimos. Veja que curiosa a definição: “it. mancinismo (1900) ‘disposição natural para o uso da parte esquerda do corpo’, der. de mancino ’que usa naturalmente a mão esquerda’, de manco ’defeituoso, privado de pé ou mão’; ver manc-(…)” Pois bem, tudo isso para introduzir o assunto vampirismo e associá-lo a um mal muito comum do século XIX e ainda comum em países em desenvolvimento devido a falta de imunização: a tuberculose. É uma doença socialmente determinada, isto é, pelo modo de trabalho, de vida e de convivência, transmitida por uma bactéria. O contágio se dá, basicamente, pelo contato próximo com o indivíduo contaminado: tosse, espirro etc. Os sintomas: tosse com pus ou sangue, cansaço excessivo, febre baixa geralmente à tarde, sudorese noturna, falta de apetite, palidez, emagrecimento acentuado, rouquidão, fraqueza, e prostração. Os casos graves apresentam dificuldade na respiração; eliminação de grande quantidade de sangue, colapso do pulmão e acumulo de pus na pleura (membrana que reveste o pulmão). Imaginemos, então, o homem médio do século XIX, ou antes, vendo seu parente definhando por conta da tuberculose. Palidez, aversão ao sol, tosse com sangue, olhos avermelhados, a higiene provavelmente muito pequena ou nula, unhas grandes, cabelos grandes, barbas grandes. Enfim, vamos aos fatos: a pequena cidade de Exeter, em Rhode Island, em 1892, houve um caso de suposto vampirismo. Semelhante ao que aconteceu recentemente num pequeno vilarejo da Romênia em 2004. Isso mesmo, 2004! A história foi a de que Mercy Brown, de 19 anos, havia morrido de uma misteriosa doença, a mesma doença que havia matado sua mãe e sua irmã. Edmond, seu irmão, ficou doente. Então, a comunidade se mobilizou para que o pai, George, fosse ao cemitério exumar o corpo da moça Mercy, pois a população acreditava que ela havia se tornado uma vampira! E seu espírito maligno estava sugando a vida dos vivos para manter-se ‘vivo’. Para confirmar as suspeitas, o caixão de Mercy foi exumado, 2 meses após sua morte. Eles encontraram toda a prova de que precisavam: as unhas estavam grandes, o cabelo crescido, o rosto vermelho e o corpo inchado. Então, a comunidade fez o óbvio: retirou o coração de Mercy e o queimou, fazendo com suas cinzas um chá que deram para o irmão mais velho Edmond sarar, quebrando o ‘feitiço’. O curioso é que, depois que morremos, as unhas e os cabelos continuam crescendo. Na fase mais aguda da tuberculose há a eliminação de grande quantidade de sangue. Nosso corpo continua liberando gases, fazendo com que haja inchaço, dando a impressão de que ‘engordamos’, ressaltando o sangue: pronto, mito explicado. No século XIX, na Nova Inglaterra, por exemplo, a família de J.B., era um dos muitos casos de tuberculosos, cujas famílias inteiras pereciam em pouco tempo e eram enterradas juntas. Devida à grande quantidade de mortos, as covas eram rasas, fazendo com que não raras vezes, com o decorrer dos anos, com as chuvas etc, os ossos surgissem na superfície, aumentando ainda mais a superstição. As estacas: por conta dessa superstição de que o primeiro membro da família que morria ‘sugava’ a vida dos outros pelo fato de que os outros membros pereciam na sequência, e o que havia morrido primeiro estava com sangue na boca e ‘gordinho’ -(leia-se por conta da tosse e inchado por conta dos gases) – começou-se a usar estacas, que na verdade deixam os gases escaparem e aceleram o processo de decomposição, mas que acreditava-se que “matavam” os vampiros. Há uma lápide em Rhode Island, de uma pessoa que morreu em 1842 de ‘consumption’, que era o nome da época para tuberculose que a relaciona diretamente a ‘vampire grasp’, fazendo ligação direta entre o mito e a doença. Para os céticos e góticos de plantão, uma má e uma boa notícia: em fevereiro de 2004, na Romênia, vários parentes de um tal de Toma Petre temiam que ele havia virado um vampiro, pois tinham pesadelos com ele. Muitos juravam que haviam adoecido por conta de suas visitas noturnas. Advinha o que fizeram? Óbivo: desenterraram seu corpo, tiraram seu coração, de maneira ‘apropriada’, segundo eles, queimaram-no, misturaram as cinzas com água e beberam-na. Sua sobrinha, que supostamente havia adoecido por conta de seus ataques noturnos, jura que melhorou depois do fato. Há uma ilhota na Grécia em frente a Mitilene, capital da ilha grega de Lesbos, no mar Egeu, que é considerada a ilha dos vampiros, pois é lá que os supostos eram enterrados e devidamente enfincados com estacas. Uma visão muito triste… Aproveite a crise europeia para viver um pouco do misticismo e vá visitar a ilha dos vampiros e checar se os mortos vivos ainda transitam por lá! Cheers!fonte:ricardonagy.wordpress.com

A Ilha dos Vampiros - Documentário Completo e Dublado - www.diarena.com